Turismo místico e ecológico atrai empresários a Alto Paraíso de Goiás (Postado por Lucas Pinheiro)
Cortada pelo paralelo 14, que também atravessa Machu Picchu, no Peru, Alto Paraíso está em cima de uma placa enorme de quartzo, de 4 mil metros quadrados, cercada por rochas e paredões. Segundo os místicos, esses fatores protegem a cidade de desastres naturais. Para eles, o fim do mundo acontecerá na próxima sexta-feira, dia 21 de dezembro, data que, de acordo com o calendário maia, encerra um ciclo de 5.125 anos.
Laurent afirma que a energia dos cristais facilita a “descoberta cósmica e a percepção da claridade espiritual”. Ele não acredita no fim do mundo e, sim, no início de uma nova fase da humanidade. “No dia 21 de dezembro, vamos celebrar a entrada de uma nova era. Será o fim da confusão, dessa fase crítica atual, das forças espirituais do mal”, defende.
Embora não palpite sobre os tipos de catástrofes que podem ocorrer, o francês se diz certo de que Alto Paraíso está protegida. “Aqui, o ar está limpo, não tem terremoto. Se tiver tsunami, não vai atingir a cidade”, elogia.
No entanto, ele reconhece que nem todos se adaptam ao clima do local. “Se você está com a mente limpa, você fica bem. Mas se você estiver perturbado, aqui é muito difícil de ficar”, diz. O bailarino cita que chegou à cidade acompanhado da namorada, mas que ela ficou apenas uma semana com ele e foi embora.
“Conheci esse lugar em 2008 através de uma amiga, que é atriz e tem uma fazenda aqui. Vim porque queria pesquisar a matéria espiritual. Não podia aguentar a situação do mundo”, lembra.
Professora de dança da escola de Laurent, a norte-americana Amber Joy Rava nasceu em Nova York e também é só elogios a Alto Paraíso. “Vim pela primeira vez há sete anos e hoje me divido entre essa cidade e a Índia. Tenho muitos amigos e família de luz aqui”, acrescenta a ex-bailarina do Circo de Soleil.
Harmonia entre religiões
O comerciante Jorge Ferraz Filho, de 74 anos, há vinte anos deixou sua cidade natal, Galiléia, em MG, para viver em Goiás. Inicialmente, morou em Cristalina e há seis anos está em Alto Paraíso de Goiás, onde montou uma loja de pedrarias, principalmente de quartzo. Evangélico, ele diz não acreditar no misticismo, mas admite que a maioria dos seus clientes é esotérica. “Aqui, todas as religiões convivem em harmonia. Eu sou um comerciante. Vendo pedras para ornamentação, para a alegria. Sei que são usadas por esotéricos, mas não vou espantar o turista”, argumenta.
Ao contrário de boa parte dos forasteiros de Alto Paraíso de Goiás, ele garante que não escolheu a cidade por questões místicas e afirma não acreditar no fim do mundo. “Essa história de fim do mundo é baboseira. Eu fugi da violência. Aqui é um lugar tranquilo e estratégico para o comércio. Não temos registros de assaltos. Por isso, me mudei”, argumenta.
Ferraz elogia a vocação turística da cidade, mas faz críticas à infraestrutura da região: “Isso aqui não tem um aeroporto funcionando. As estradas são só buracos”.
ETs na decoração
Natural de São Paulo, Messias Nascimento, de 48 anos, mudou-se para o povoado de São Jorge, distrito de Alto de Paraíso de Goiás, há 11 anos, para montar o seu próprio negócio. O vilarejo é a porta de entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, tombado pelo Patrimônio Natural da Humanidade. Incentivado por um amigo que conhecia o lugar, ele abriu um restaurante. “Sempre trabalhei em restaurante, mas nunca fui proprietário”.
Embora a temática sobrenatural esteja espalhada pela decoração do ambiente, Messias afirma não ter religião e garante que não acredita em esoterismo nem em extraterrestres. “Isso aí não existe não. Não tenho nada contra. Só respeito a ideia, a ideologia. Para ele, outros motivos o levaram a permanecer na cidade: “Gosto de sossego, harmonia. A flora e a fauna daqui têm tudo a ver com a paz”. Em uma das paredes do restaurante, clientes de vários países pregam bilhetes com mensagens de esperança.
A exemplo dos restaurantes, a maioria dos hotéis e pousadas de Alto Paraíso tem sua decoração inspirada em alienígenas e temas esotéricos. O G1 visitou uma construção na cidade chamada de "Pousada do Futuro". Quem vendeu os lotes para construção do novo empreendimento foi o corretor Nilton Kalunga. O local ainda está em obras, mas é possível obsevar detalhes curiosos. Um alienígena enfeita a beira da piscina. A sauna da pousada, bem como os quartos, têm formato de cúpula.
Pintados de branco, os chalés – construídos com cimento e ferro - têm três janelas grandes e vários buracos no teto, que não têm telhas. “É uma construção ecologicamente correta. Nas janelas e nos buracos do teto serão colocados vidros, para aproveitar a luz natural. A cama é de alvenaria. Além do lado ecológico, alguns querem se proteger melhor de possíveis catástrofes e, por isso, não usam telhas, para diminuir os impactos de uma possível ventania”, esclarece o corretor.
Atrativos naturais
Ex-secretário de Turismo de Alto Paraíso de Goiás e vereador eleito, Fernando Couto administra um dos principais conjuntos de quedas d’água do município: a Cachoeira dos Cristais. Ele lembra que no ano 2000, quando houve a especulação de que o mundo acabaria, a cidade foi vítima de preconceito. “A população ficou magoada porque criou-se uma ideia de que aqui só tem maluco. O importante hoje é buscar solução para os problemas que a gente tem. Não quero que a cidade volte a ser motivo de chacota. A cidade é turística, com muitas belezas naturais”, defende.
Couto diz que, quando se mudou para Alto Paraíso, não conhecia a crença de que a cidade é protegida de possíveis desastres naturais. “Nem sabia dessa história de fim do mundo quando vim da Inglaterra para cá. Mas como o mundo não acabou da outra vez, muita gente que veio por causa disso foi embora. Agora está chegando uma nova era. Eu acredito na mudança”, afirma. Ele se diz preocupado com o número alto de turistas que o município deve receber esta semana: “Conseguimos hospedar 10 mil pessoas, mas já temos a previsão de receber 15 mil”.
Educação ambiental
O educador ambiental Thomas Enlazador, de 36 anos, é uma das pessoas comprometidas em garantir que turistas e moradores convivam em harmonia com o meio ambiente. Ele gerencia o Instituto Biorregional do Cerrado e acredita que o dia 21 de dezembro representa o fim de um ciclo e o surgimento de uma nova sociedade. “O que já está acontecendo é uma mudança de consciência. O mundo já está se conectando com a data. Faremos a transição da sociedade de consumo para a consciência ecológica”, crê.
“O fato de Alto Paraíso estar em cima de uma placa gigante de quartzo, a força dos cristais, a beleza natural do lugar e a cultura mística, sem dúvida, atraem muitas pessoas”, enumera o educador ambiental.
Segundo a Prefeitura de Alto Paraíso, atualmente, existem no município mais de 40 grupos com motivações místicas, filosóficas e religiosas. Podem ser encontradas as comunidades Vale do Amanhecer, Osho Lua, Canto Alegre, Mata Funda, Oca Brasil e grupos ligados ao consumo da ayahuascha (bebida produzida a partir de plantas amazônicas), como o Santo Daime.
Os grupos, filosofias e religiões são bastante ecléticos e atraem pessoas de várias partes do mundo, segundo Couto. “Apesar de sermos uma cidade pequena, costumamos dizer que Alto Paraíso é cosmopolita. Devido a essa característica alternativa, temos moradores de mais de 30 nacionalidades diferentes”.
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